quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Guerrilha Urbana Eleitoral


Em todas as eleições sempre há a presença de “ações não convencionais”, digamos que “não oficiais”, que têm o objetivo de minar a força do adversário político através da informalidade. Neste ano de 2014, embora não seja novidade no cenário das eleições no Brasil, as ações de Guerrilha Urbana Eleitoral estão bastante fortes, pois o combate oficial está bastante acirrado (equilibrado) e ambos os lados estão querendo ganhar a qualquer custo.

Uso o termo “guerrilha urbana eleitoral” para manter a mesma analogia com estratégias militares que foram feitas no post “Eleição é Guerra”.

Guerrilha é segundo o Dicionário Aurélio:

“Luta armada realizada por meio de pequenos grupos constituídos irregularmente, sem obediência às normas estabelecidas nas convenções internacionais, e que, com extrema mobilidade e grande capacidade de atacar de surpresa, visa ao crescimento progressivo das próprias forças mediante a incorporação de novos combatentes e abertura de novas frentes guerrilheiras até que se possam travar com êxito combates diretos contra as tropas regulares inimigas”.

Guerrilha Urbana é tudo isso adaptado para vias urbanas e, obviamente, Guerrilha Urbana Eleitoral são todas as técnicas adaptadas para o processo eleitoral.

Vale ressaltar que a Guerrilha Urbana Eleitoral é completamente diferente do que nós, profissionais ligados a área de marketing, entendemos como “Marketing de Guerrilha” e muito diferente também do que conhecemos como “Marketing de Emboscada”. O primeiro é bastante conhecido e cada vez mais comum, principalmente nesta era do “Marketing Promocional”. O segundo já não é muito bem visto e, só para dar um exemplo, é o que ocorre bastante durante a Copa do Mundo e que a Fifa tenta impedir.

Cito abaixo dois exemplos um de Marketing de Guerrilha e um de Marketing de Emboscada dentro do processo eleitoral.

MARKETING DE GUERRILHA ELEITORAL (exemplo)

Fazer uma intervenção no centro da cidade colocando pessoas assobiando ou cantando o jingle do candidato. Pessoas que aparentemente não teriam ligação alguma, espalhadas, como se tivessem simplesmente de passagem. Poderia colocar também uma quantidade significativa de pessoas aparentemente sem relação alguma usando camisas diferentes com foto e número do candidato.

Isso passaria a sensação que as pessoas estão aderindo ao discurso do candidato e chamaria a atenção para o público atingido prestar mais atenção ao discurso do candidato através dos debates, das propagandas e dos programas eleitorais.

MARKETING DE EMBOSCADA ELEITORAL (exemplo)

Próximo a (ou até mesmo dentro de) um comício, carreata ou passeata do adversário, colocar pessoas para agirem de forma discreta com material de campanha do candidato. A ação precisa parecer “natural” e não uma intervenção de fato.

Claro que esse tipo de ação, em termos eleitorais, é bastante arriscado para a sua integridade física, pois trata-se de uma provocação. Num cenário eleitoral, principalmente muito disputado e com os ânimos bem acirrados, isso poderá (e provavelmente vai) gerar resposta violenta em cima das pessoas que estiverem armando a emboscada.

NOTE!

Note que tanto o Marketing de Guerrilha Eleitoral quanto o Marketing de Emboscada Eleitoral não fazem uso da intimidação, da depredação, da INTERVENÇÃO DIRETA NO MATERIAL OU MILITÂNCIA do adversário. Poderíamos dizer até que são “intervenções limpas”, talvez subliminares, mas intervenções limpas.

GUERRILHA URBANA ELEITORAL

A guerrilha, por definição, lida com o uso da força (física e psicológica) para TENTAR IMPOR ao próximo a adesão da sua causa. A guerrilha acaba entrando na esfera da exigência, da intimidação, da revolta e do medo. Faz uso de meios fora do campo do diálogo, do racional. O uso da verdade, inclusive, não é necessário, pois a importância maior é que atendam as suas expectativas a qualquer custo. Fazem uso sistemático de “meios de pressão”. Não atoa, UMA DAS ARMAS DA GUERRILHA É EXATAMENTE O TERROR.

“Se você não faz o que eu quero, vou exigir por meio da força até que você abrace a minha causa.”

Pode-se fazer, tomada as devidas proporções, paralelos com os movimentos radicais do mundo (alguns até com certo caráter social): FARC, ERP, Al Qaeda, Estado Islâmico, os separatistas na Ucrânia, os paramilitares chavistas da Venezuela, o MST, o MTST, o Black Blocs, etc...

São inúmeras as armas da Guerrilha Urbana Eleitoral, assim como qualquer guerrilha. Vale qualquer coisa que possa pressionar o seu alvo para fazer o que você quer. Neste cenário, resolvi listar apenas alguns exemplos que estou vendo nesse segundo turno das eleições de 2014.

01) Uso de cartazes e panfletos “amadores”

Sabe aquele tipo de cartaz, em papel ofício impresso em casa? É mais ou menos isso. Só que o conteúdo do material está voltado para espalhar boatos, mentiras, algumas meias verdades, mensagens de intimidação... Pouco importa a veracidade do que é veiculado, pois o objetivo é gerar uma resposta “negativa” em relação ao adversário político, é confundir o eleitor, pô-lo em dúvida, é “queimar” a imagem do adversário ou fazer o eleitor ter receio de manifestar sua opinião seja por vergonha ou por medo.

Esse tipo de material é colocado ou distribuído, normalmente, em pontos de ônibus, postes, universidades, portas de escolas, praças de grande circulação e não há uma identificação clara se o material distribuído é atestado pela equipe do candidato ou não. Ou seja, o emissor normalmente é um anônimo, mas trabalha em favor do candidato.

02) Retirada ou depredação do material de campanha

Recolher material de campanha do adversário político durante as campanhas eleitorais, infelizmente, é muito mais comum do que se pensa. O mesmo vale para a depredação.

Esse tipo de ação tem como objetivo (e consequência) a diminuição ou até mesmo a extinção da visibilidade do adversário nas campanhas de rua. Quando ocorre a depredação, tem-se ainda a sensação de “rejeição”, ou seja, pior do que a ocultação.

No segundo turno, quando se há apenas duas opções para escolher, há ainda a sobreposição de material de campanha (colar adesivo em cima do material de campanha do adversário, por exemplo). Essa atitude pode gerar um efeito contrário de rejeição devido a falta de respeito, mas essa rejeição acaba sendo muito pequena em relação ao dano causa.

03) Intimidação de eleitores do adversário

Essa talvez seja a mais grave de todas as “armas” da Guerrilha Urbana Eleitoral. Ameaçar, intimidar, xingar, agredir fisicamente (sim, isso ocorre e já aconteceu este ano com mais de uma pessoa conhecida minha em Salvador-BA e em 2012 parente meu foi intimidado quando saía de casa para votar e amigo meu sofreu agressão física próximo ao local de votação), depredar propriedade do eleitor (riscar carro, encher o carro de adesivos, quebrar vidro do carro, pichar muro, etc...), tomar material de campanha a força (mandar tirar camisa, rasgar roupa, etc...)... Enfim... Toda forma de intimidação possível e inimaginável.

Essas ações têm como objetivo deixar o eleitor do adversário com medo, apreensivo até sair para votar se este não estiver convicto do seu voto. O eleitor do adversário terá medo de manifestar seu apoio com medo de alguma retaliação, alguma perda de bem ou até agressão física. Essas ações são mais fortes nos dias de votação ou poucos dias antes. Inclusive, o uso de boatos de agressão, de assaltos, brigas de militantes, etc..., não são raros nas redes sociais. Mas, pior é quando isso não é um boato, mas sim um fato.

TERRORISMO ELEITORAL

Nestas eleições de 2014 tem-se falado bastante do “Terrorismo Eleitoral” que um partido político está realizando. Como disse anteriormente, o “Terrorismo” é uma das inúmeras armas da Guerrilha. Antes, neste post, eu estava tratando mais da “Guerrilha Urbana Eleitoral”, ou seja, procurei dar ênfase - não exclusividade - nas ações físicas de rua. Todas as ações descritas anteriormente podem ter pontos que se enquadram no “Terrorismo Eleitoral”, principalmente a última citada.

A definição de “Terrorismo”, tirada da Wikipédia, é a seguinte:

“Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, através de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas de esquerda e direita, grupos separatistas e até por governos no poder.”

Obviamente, anexando o termo “Eleitoral” as ações são adaptadas para esta finalidade.

A arma “Terrorismo” é utilizada para alcançar o objetivo através da PRESSÃO usando o artifício do medo que é um dos sentimentos mais primitivos do ser humano, que o faz, inclusive, perder a razão. A emoção toma conta e “bloqueia” as ações que possam trazer alguma mudança, visto que a “não ação” é exatamente a continuidade. A pessoa com medo tende a ficar estática.

Eleitoralmente falando, incutindo o medo a pessoa tende a manter a atual situação, mesmo que ela deseje alguma mudança. É exatamente por isso que o PT está atacando através do “medo”, pois o sentimento de mudança da população é bastante forte e o principal mote de campanha de Aécio Neves é “Mudança”. Foi por isso também que em 2002 o PSDB usou o mote “medo” em cima do Lula, embora não tenha sido com tanta veemência e sujeira como está sendo feito este ano.

São inúmeras as formas de disseminar o medo (além das já citadas). Particularmente neste ano de 2014 o medo está sendo disseminado através das propagandas políticas (inclusive começaram bem cedo, antes das campanhas eleitorais), através do celular usando as mensagens de texto SMS e o aplicativo WhatsApp, através de boatos espalhados nas redes sociais, através de telefonemas, através de discursos em comícios e através de militantes usando o “boca-a-boca”.

O ser humano em si tem aversão à perda, tem medo de perder. É inegável que nesses doze anos de governo do PT muitos que não tinham nada, hoje em dia têm alguma coisa (a “validade” dos métodos não vem ao caso agora) e perder para voltar à miséria é de gerar pânico nestas pessoas. Reparem que não estou falando de ataques à honra e à moral do adversário, estou falando de ataques ao psicológico do cidadão, ou seja, à transformação de quem precisa e tem alguma dependência em ESCRAVO. É fazer uso da necessidade alheia para escravização e é exatamente por isso que não dão uma “porta de saída”, um meio da pessoa poder sair de tal situação... É colocar na pessoa grilhões com uma bola de chumbo pesadíssima que a impeça de realizar qualquer movimento de forma independente.

O terrorismo faz uso de pessoas que nada tem a ver com a situação para atingir os inimigos, o terrorismo eleitoral faz uso de pessoas inocentes e com certo grau de dependência (física e/ou psicológica) e ingenuidade para atingir o adversário político. Em ambos os casos, a pressão através do medo bloqueando o poder de ação.

Agora, cabe uma observação... Disse anteriormente que o medo bloqueia a ação, mas ele pode também chamar a pessoa a agir contra o alvo e não contra quem de fato está fazendo o uso do terror. É uma completa inversão dos sentidos.




sábado, 18 de outubro de 2014

A Construção de Um Discurso Político Difamatório


Ante de começar, quero dizer o porquê de eu ter deixado de postar desde agosto...

Eu pretendia fazer uma série sobre “Marketing Político”, mas a mesma foi inviabilizada. O motivo? Simplesmente esse ano está sendo o das CAMPANHAS POLÍTICAS MAIS SUJAS DA HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL. O conceito de “Eleição é Guerra”, que tratei em outro post, assumiu o seu mais alto patamar em que praticamente tudo está valendo.

Devido a esse cenário e ao fato de a campanha a ser analisada seria a do PT, partido que na ocasião considerava o mais competente em termos de Marketing Político, (embora, hoje, esteja vendo que o pessoal do PSDB está colocando o do PT no bolso!) e esta campanha está sendo IMUNDA (primeiro turno detonaram a Marina com algumas rajadas em Aécio e este segundo turno está tudo concentrado em Aécio, como era de se esperar), decidi cancelar essa série para não tomar partido (embora minha preferência, desde o início, fosse de fato pelo candidato Aécio Neves e sua coligação por motivos que não vem ao caso).

O Marketing Político não é realizado apenas durante as campanhas eleitorais, ele vem sendo elaborado com bastante antecedência (acaba uma campanha eleitoral, já começa um novo projeto até o próximo processo eleitoral) e eu venho acompanhando a comunicação do PT de forma mais atenciosa há pelo menos três anos. Isso gerou um bom material para análise que, infelizmente, não caberia colocar em prática de modo, digamos, QUASE neutro.

O que me estimulou a voltar para fazer esse post foi o fato de eu realmente ter saturado dessa campanha e em ver tanta gente estarrecida com a formatação dessa Campanha Eleitoral de 2014. O que é feito durante uma campanha eleitoral para derrubar um candidato, fica na campanha e qualquer coisa que seja desmentida de nada valerá depois, pois o resultado já saiu e não há como provar que tal difamação (caso seja mentirosa) de fato tenha contribuído para a derrota do difamado (embora todo mundo saiba que o motivo foi a difamação, é praticamente impossível provar juridicamente).

Outro fator que me fez ter vontade de voltar a escrever foi o fato de eu ter previsto de forma quase que certeira o que aconteceria nas eleições para governador da Bahia, após ver o último programa dos candidatos Paulo Souto do DEM (aparecendo liderando as pesquisas) e Rui Costa do PT (candidato que estava ascendendo cada vez mais).

Após ver os programas a primeira pergunta que fiz foi: “Como é que o Democratas não previu que a campanha do PT iria atacar exatamente esse ponto no último programa eleitoral e não se antecipou (blindou)?”. Daí não foi muito difícil prever que Rui, que estava ascendendo, iria para o segundo turno na frente de Paulo Souto (só não esperava que o impacto seria tão grande a ponto dele ganhar logo no primeiro turno).

Como hoje a situação está bem parecida com o que está para ocorrer com o candidato Aécio Neves (sim, meu candidato), excetuando o fato de que é ele que vem em processo de ascensão, embora esteja, hoje, à frente nas pesquisas, resolvi mostrar para vocês um pouco dessa minha percepção para chegar à conclusão em relação às eleições para governador da Bahia. Vale destacar que falo de mesma situação e NÃO DO MESMO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO DISCURSO.

Construindo um Discurso Político Difamatório

Como disse na breve introdução, o Marketing Político não acontece apenas durante o processo eleitoral. A campanha eleitoral é o final de todo o trabalho realizado antecipadamente. Então é muito comum plantar notícias sobre um determinado candidato com bastante antecedência para usá-la como validadora (desenterrando-a) durante a campanha eleitoral (ou em até mais de uma campanha eleitoral), assim como arquivar as notícias verdadeiras sobre escândalos que o oponente venha a cometer, fazendo uma espécie de “clipping”. Como esse é um trabalho constante e que continua ocorrendo em todas as etapas que listarei não a considero como uma etapa específica.

Eu identifico NO MÍNIMO QUATRO ETAPAS BÁSICAS, sendo que dentro dessas etapas básicas podem ter (e normalmente têm) outras pequenas etapas. As 4 etapas básicas são:

01) Identificar um grupo sensível (ou mais) para ser acionado na hora de atacar
02) Procurar entre os discursos (propagandas, comícios ou debates) algo que possa ser interpretado de uma maneira que afete um desses grupos, fazendo um arranjo discursivo
03) Plantar Notícias e estimular meios de divulgação, promover ataques através de agentes e manipular notícias antigas ou de difícil averiguação
04) Lançar no último programa e/ou no último debate a "bomba", quando o oponente não tem mais chance de se defender a altura.

Etapa 1: Identificar um grupo sensível (ou mais) para ser acionado na hora de atacar

Atualmente existem 3 grupos que estão bem sensibilizados e que são bem relevantes para campanhas eleitorais: a) Mulheres, devido ao movimento feminista; b) Negros, devido ao movimento negro; c) LGBTs, devido aos movimentos gays. Lembra que falei que o processo de “Marketing Político” começa muito antes? Os partidos que estão mais imersos nos movimentos sociais associados a esses grupos são exatamente o PT e seus aliados, sendo assim muito fácil acioná-los.

O trabalho em cima desses grupos é feito durante muito tempo, tanto de “implantação de comandos” para reagirem quanto de fomentação da insatisfação, deixando-os sempre insatisfeitos, sempre promovendo a “luta de classes” e se colocando como um dos poucos (se não o único) que de fato olha para esses grupos.

No caso que estou vendo do Aécio Neves, o grupo selecionado foi o de MULHERES (e se for negra e/ou homossexual, melhor ainda!). Esse grupo (o de mulheres) ainda servirá para tentar frear o candidato Aécio Neves nas respostas em relação a Dilma, fazendo-o pensar mais vezes do que pensaria caso o adversário fosse do sexo masculino.

Etapa 2: Procurar entre os discursos (propagandas, comícios, debates, etc...) algo que possa ser interpretado de uma maneira que afete um desses grupos, fazendo um arranjo discursivo.

Identificado(s) o(s) grupo(s) e sabendo como reage(m) a determinados comandos (discursos), basta aguardar a oportunidade de “pinçar” algo que o oponente disse e que possa ser interpretado (mesmo que de forma forçada) como um ataque aos valores de tais grupos. Para fazer isso, basta colocar uma pessoa (ou uma equipe) especializada em “métodos de interpretação” (pode ser semioticistas ou analistas de discursos, por exemplo) com objetivo direcionado de “captar possibilidades interpretativas”. Hoje em dia não é muito difícil encontrar (deturpar) discursos para que pareçam “racistas”, “machistas” ou “homofóbicos”.

Esse discurso pode, inclusive, ser estimulado, trazido à roda através de temas que tenham, de modo secundário, um dos grupos selecionados.

Dilma, por exemplo, e apenas um exemplo, quando perguntou para Aécio (em um dos debates) sobre SEGURANÇA, inseriu “SEGURANÇA DA MULHER, deixando claro que queria que fosse tratado desse assunto. Falando de MULHER, seria muito mais fácil conseguir pinçar um discurso que parecesse “machista”, afinal, estaria se falando de violência contra a mulher que em praticamente todos os casos é realizada por homens. Outro fator importante desse estímulo é que prepara o público para o tema, deixando-o mais sensível.

Bom... Para este caso, existe uma notícia de 2009 em que Aécio Neves é acusado de bater em sua namorada (atual esposa e mãe dos filhos gêmeos dele) publicamente numa festa, fato que já foi desmentido e esclarecido (aqui tem outra fonte "Informação falsa: Aécio Neves agrediu namorada Letícia Weber em 2009"). Então, trazer o tema “Violência Contra a Mulher” pode trazer à baila essa notícia (próxima etapa).

Etapa 3: Plantar Notícias, estimular meios de divulgação, promover ataques através de agentes e manipular notícias antigas ou de difícil averiguação.

Essa é exatamente a etapa em que todo o trabalho sujo é colocado em prática. Tendo o oponente fisgado a isca, é partir para as manipulações e deturpações.

No Debate da Band para o Segundo Turno (14/10/2014), segundo os petistas, Aécio Neves foi machista ao se dirigir a Dilma Rousseff da forma como se dirigiu (se foi uma reação ou não para esse processo é irrelevante, mas o fato é que provocam o tempo inteiro para alcançar o objetivo) e quando ele usou os termos “Trabalhador” e “Dona de Casa” (detalhe que Dilma TAMBÉM USA esses termos para se referir de forma similar).

Colocou-se então uma nota no site oficial do PT denominada “Aécio dá show de machismo no debate da Band”, usando o termo “Machismo” que faz ativar o movimento feminista e toca muitas mulheres que recebem uma carga midiática pesada de tudo que ELES (do partido e movimento feminista) acreditam ser “machismo”.

O primeiro “estímulo” fora do site partiu das mídias sociais, local onde o engajamento é bastante significativo e tem um bom poder de viralização. As imagens abaixo foram tiradas da Fanpage Oficial do Partido.


Depois precisam vir outros reforços como este para manter a unidade e manter o tema sempre vivo.


No Debate do SBT (16/10/2014) o candidato Aécio Neves (acertadamente, ao meu ver) também não poupou ataques verbais em resposta às provocações da candidata Dilma Rousseff. Aécio tratou a atual presidente de igual para igual (com igualdade e não considerando a mulher como “sexo frágil”, que por sinal as feministas odeiam ser chamadas disto, e em consonância com a imagem de "forte" que a atual presidente adota), respondendo os ataques à altura, aumentando a temperatura em outras ocasiões. O clima do debate foi bastante tenso e carregado (chegando até a candidata Dilma passar mal durante uma entrevista após o debate).

Essa atitude de Aécio (repito, acertada, mesmo com as consequências que podem/poderiam gerar) abriu a porta para dizer que o candidato tucano não respeita mulheres e é agressivo com mulheres (não somente com Dilma, mas com mulheres em geral). Isso pode trazer à tona a notícia de 2009 em que o acusaram de ter agredido a namorada na festa (link na Etapa 2) e implantar o conceito Aécio machista que é agressivo com mulheres. Obviamente, não iriam deixar isso em branco e Lula, em um comício em Manaus disse que Aécio foi Ignorante COM UMA MULHER. Reparem que ele usou a expressão “uma mulher” e não com a candidata Dilma Rousseff. Por que isso? Ora! Para dar andamento na fixação da imagem que pretendem dar a Aécio Neves (a imagem de machista) e como Dilma Rousseff irá atacar o candidato, cada vez que ele ataca-la o PT irá tentar dizer que o candidato não respeita o fato da presidente da república ser mulher, dando a entender que ele só a trata dessa forma porque trata-se de uma mulher e que por isso ele é um "troglodita machista".

Trabalhando com essa declaração de Lula com a notícia de 2009, podem agora trazer vários reforços. Um deles foi associar o artista Dado Dolabella que já foi acusado por agredir namoradas (por que não trazem o Netinho de Paula, cantor e do partido PCdoB, aliado do PT?) e diversos escândalos de “molecagem”.


A militância pode ser acionada de forma ativa ou passiva. Ativa é quando essa militância está sendo gerenciada pelo partido, passiva é quando essa militância (ou militante) é pega pelos estímulos da militância ativa, da mídia ou do próprio partido.

A manipulação da postagem abaixo não sabe-se ao certo se foi “ativa” ou “passiva”, mas isso pouco importa para o resultado final (aliás, conseguir esse grau de engajamento de militantes passivos é o que deseja todo candidato). O importante, agora, é ver como a notícia foi manipulada!

(Sem link, pois trata-se de um perfil pessoal)

Repare que o texto ao lado é EXATAMENTE o mesmo da postagem de 2009 (arquivada), mas a imagem da mulher agredida não condiz com a notícia, ela foi usada apenas para mostrar um rosto conhecido na mídia e sem relação com o caso listado. Mas isso pouco importa, pois a notícia da imagem é muito antiga (embora tenha voltado à tona pois o agressor neste caso é um ator e este está sendo acusado de ter agredido a mulher recentemente). Essa imagem da mulher agredida, segundo fonte, é de 2006, mas segundo acusação o ator agrediu OUTRA mulher no início deste ano (“Ex-namorada de Kadu Moliterno relata que foi agredida pelo ator após descobrir traição e presta queixa”).

Repararam a “confusão”?

Aécio foi acusado de ter agredido uma mulher em 2009, trazem uma mulher que foi agredida por outra pessoa em 2006 e que não tem relação com o fato recente que trouxe a notícia. Resumindo, a pessoa para verificar essa notícia vai rodar bastante.

Essa outra parte de uma militância organizada, a UJS, que e fortemente ligada ao Partido dos Trabalhadores. Repare que eles trazem uma capa de jornal antigo e a verificação é praticamente inacessível.


Etapa 4: Lançar no último programa e/ou no último debate a "bomba", quando o oponente não tem mais chance de se defender a altura.

Obviamente aqui, nesta etapa, trata-se de especulação. Trata-se de UMA POSSIBILIDADE. Como “Eleição é Guerra”, é um jogo de xadrez, é preciso ver a movimentação do adversário. O Marketing do PT pode optar por antecipar ou abortar e colocar outro tema que ele julgue mais “grave” (por exemplo, está também em evidência o caso do Helicóptero com quase meia tonelada de pasta base de cocaína e que também já foi desmentido e esclarecido). O Marketing do PSDB pode resolver esclarecer isso antecipadamente e neutralizar a ação do PT. Enfim, só a movimentação poderá dizer. Há também outras possibilidades de desfecho, mas aqui irei me ater a notícia inicial (a de 2009, que Aécio foi acusado de ter agredido a namorada).

Com todo esse terreno preparado, essa bomba pode ser lançada no último programa eleitoral de TV e Rádio ou no último debate. Como este ano o último debate será um dia antes do último programa eleitoral, lançando o tema no último debate ainda haverá tempo de tentar desfazer (embora o impacto da resposta não será o mesmo). Então...

No dia 24/10, no último programa, pode ser lançado para a massa a notícia de que Aécio agrediu namorada em festa que em si é grave. O candidato não terá outro programa para desfazer e o trabalho em mídias sociais não terá tempo suficiente para viralizar a defesa à altura. O candidato difamado terá que contar com a “sorte” de os eleitores não acreditar na denúncia ou a denúncia não ter um peso tão grande (difícil, pois é um tema de comoção).

Conclusão

A ideia deste post foi mostrar o possível caminho para difamar o adversário político. Mostrar o caminho para a construção de um discurso político difamatório e não a resolução do problema ou alternativas para blindar esse discurso. Até porque, é preciso ter muitas informações (pesquisas e o plano estratégico geral) para ver qual linha adotar. Pode ser que, para este caso, a equipe de Aécio Neves tenha material para difamar a Dilma e a altura de tornar esse fato pequeno. Pode ser também que a equipe do PT tenha material mais grave para inserir no último programa eleitoral e que seja melhor antecipar isso para um debate.

Gostaria de deixar claro também que uso o termo “acusado” para me referi a “denunciado” e que não necessariamente foi condenado.

Importante deixar claro também que considero o “Discurso” aqui o da campanha para “colar” essa imagem e não uma “análise do discurso de uma frase, parágrafo ou texto”.

Por fim, gostaria de deixar claro também que o fato de eu estar trazendo como exemplo a campanha do PT não significa que a do Aécio Neves esteja isento de sujeiras.

[ATUALIZAÇÃO 17h30]

Uma hora depois de publicar esse post tive acesso ao vídeo do Comercial do PT que começou a ir ao ar hoje na TV e Rádio que fala exatamente o que escrevi. Olhem como estão construindo em Aécio a imagem de que AGRIDE MULHERES! Não vai demorar para tocarem no assunto de 2009!

(Ps: Se o vídeo sair do ar, visto que a equipe de Aécio Neves entrou com ação no TSE para retirá-lo do ar e entrou com outra ação processando a candidata Dilma Rousseff contra difamação, me avisem para eu subir em outra plataforma)




terça-feira, 29 de julho de 2014

Campanhas Eleitorais na TV: O Show Vai começar


No dia 19 de agosto começarão as campanhas eleitorais em rádio em televisão e, como muitos sabem, vai começar o espetáculo de entregas de conteúdo que o público deseja ter e/ou ouvir.

O Marketing Político é importantíssimo, afinal sem ele dificilmente (praticamente impossível) alguém que realmente queira mudar alguma coisa conseguirá chegar ao poder e promover as mudanças necessárias. Portanto, o problema não é o Marketing Político (ou, se preferir, o Marketing Eleitoral) em si, mas como fazem uso dele.

Desde que o poder foi devolvido aos civis (na verdade até antes disso) as campanhas eleitorais estão ficando cada vez mais cinematográficas e o uso das mídias de massa têm decidido as campanhas, principalmente as presidenciais. O candidato passa a ser um produto que deve ser vendido e para obter os votos (sucesso de vendas) é preciso SEDUZIR, PERSUADIR O ELEITOR.

Em Campanhas Eleitorais, que transforma o candidato em produto, valem as mesmas premissas de Campanhas Publicitárias de empresas. Da mesma forma, no Marketing Político valem as mesmas “normas” do Marketing de empresas. Logo, é preciso tratar as Campanhas Eleitorais como são tratadas as Campanhas Publicitárias, tanto quem elabora tais campanhas, quanto, e principalmente, quem as recebe em seus veículos preferidos.

Vale fazer um acréscimo sobre “propaganda enganosa” que é tão combatida e gera revolta no consumidor. Uma empresa precisa entregar o que o consumidor deseja, precisa satisfazer as necessidades do público, para isso faz pesquisas e molda os produtos de acordo com os desejos e necessidades do público. Para vender esse produto, faz uso de ferramentas do marketing (tendo como uma das principais a PROPAGANDA) e quando a promessa não condiz com a entrega o consumidor se sente lesado e recorre a meios cabíveis.

Nas Campanhas Eleitorais o princípio, “a princípio”, deveria valer. As pesquisas para entregar o que o eleitor deseja ocorrem e é interessante que seja assim, é importante saber o que a população deseja e precisa e moldar o produto (candidato) a tais anseios da população. O problema é que o uso mais comum desta ferramenta no Marketing Político visa apenas ganhar a confiança da população e se manter no poder através de mentiras, sendo que o eleitor muitas vezes não tem como recorrer.

Imagine que uma propaganda diz que o consumidor deseja todas as funções possíveis e imagináveis em um celular. A empresa que produz celular diz que seu produto tem tudo isso e realiza a venda. Após adquirir o produto, o consumidor nota que seu aparelho “apenas fala e manda mensagem” e recorre. A empresa responde que as funções estão ali e através de outra propaganda mostra que estão ali mesmo e isso vale como prova irrefutável de que as funções existem em tal aparelho e diz que o consumidor que não percebe, não sabe usar o aparelho devidamente.

Essa estória que acabei de contar é o que mais acontece com grande parte os políticos do Brasil na atualidade, com o diferencial que a população tem poucos recursos para recorrer.

Para ilustrar um pouco como se dá as Campanhas Eleitorais na TV, sugiro dar uma lida nesse artigo elaborado pelo estudante Lucas Corazzini. Possivelmente trata-se de um trabalho de faculdade e tem uma linguagem bastante simples e de fácil entendimento para pessoas que não são da área. O documento se chama “Análise Semiótica da Propaganda Eleitoral” e pode ser lido ou baixado neste link.

Gostaria de ressaltar duas citações que o autor fez no seu trabalho e que mostram muito bem como são as Campanhas Eleitorais na TV (e em outros meios):

1) "De forma neutra, propaganda é definida como forma propositada e sistemática de persuasão que visa influenciar com fins ideológicos, políticos ou comerciais, as emoções, atitudes, opiniões e ações do públicos-alvo através da transmissão controlada de informação parcial (que pode ou não ser factual) através de canais diretos e de mídia." - Richard Alan Nelson, A Chronology and Glossary of Propaganda in the United States, 1996.

2) “Segundo Umberto Eco, a comunicação eficiente fundamenta-se na proposta de arquétipos de gosto que preenche as mais previsíveis expectativas. Entretanto, para não se tornar repetitiva e exaustiva, a publicidade baseia-se no pressuposto de atrair a atenção do espectador, quanto mais violar as normas comunicacionais conhecidas, realizando apelos através de soluções originais.” - Thomas Hohl, Recursos visuais e 4 idéias de uma campanha eleitoral, 2000.

Este artigo ainda traz um pouco de teoria da Publicidade e Propaganda e vale a pena ler em caráter introdutório.

Hollywood Eleitoral

As campanhas eleitorais, então, tornaram-se palco de vendas. O “Estadão” colocou em seu canal no YouTube uma entrevista com o publicitário Eduardo Fischer que fez uma análise da evolução das campanhas eleitorais na TV desde as primeiras eleições diretas para presidente após o Regime Militar, em 1989. Vale a pena assistir este vídeo com pouco mais de 7 minutos.




Para finalizar, gostaria de deixar bastante claro que não sou contra o Marketing Eleitoral assim como não sou contra o Marketing. Muito pelo contrário, sou completamente a favor do uso de ferramentas de Marketing para vender produtos (candidatos) e deixar tudo cada vez mais claro para o consumidor (eleitor) que deverá receber o que deseja. O problema não está no Marketing, mas sim nos vetos, na não liberdade, na censura, na não disputa, no deixar apenas o mais forte fazer o que bem entende, mentindo para o consumidor e não deixando meios para que ele recorra a outras alternativas.